terça-feira, 4 de maio de 2010

Mais uma vez Rodrigues


Cheguei a uma hipótese cabal: Nelson Rodrigues não era um homem à frente do seu tempo, tampouco um gênio incompreendido. Muito mais simples do que isso, seu discurso apenas não foi aceito pelo contexto social em que estava inserido.

Michel Foucault, ao tratar da Ordem do Discurso, fala do que seriam três princípios de exclusão dos discursos por parte da sociedade, grosso modo: (1) a interdição - (2) a separação/rejeição - (3) a vontade de verdade. É com base nesta última que se desenrola meu ligeiro raciocíno. Para que determinada ideia seja considerada "verdade", ou pelo menos para ser aceita, é preciso obedecer a regras (tácitas) discursivas presentes no contexto ao qual se faz parte, isto é, é necessário que o discurso se insira no chamado "verdadeiro". Nesse sentido, pode-se afirmar que a forma com que Nelson tratava da moral nas décadas de 1940-50, por exemplo, não acordava com o "verdadeiro" do discurso moralista da época, o que rendia ao autor de Vestido de Noiva a fama de tarado, pervertido, um monstro! Foi preciso toda uma reformulação do pensamento ao longo de décadas, para que só então alguns de seus textos fossem aclamados e, enfim, encenados. Essa transformação do pensamento sobre a moral permitiu que o discurso rodrigueano se encaixasse "no verdadeiro" da moralidade, para daí ser aceito. E como não existe um discurso para o futuro (no sentido de profecia), não podemos dizer que Nelson estivesse fora do seu tempo. A rejeição de algumas de suas obras se deu, provavelmente, por essa incompatibilidade com o meio a que pertencia. Ela era um incompreendido. Entretanto, é possível que essa genialidade lhe seja atribuída pelo fato de seu discurso ser compatível a décadas posteriores à sua escrita - mas não se pode atribuir isso a um insight futurista, lógico. Se bem que, todo gênio é incompreendido... Mas será que todo incompreendido é gênio?

A análise do discurso irá me enlouquecer!