segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Vinte e dois

Primeiro a poesia, o canto, a infância.
Depois a pressa, o futuro, a expectativa...
Aos 22, a experiência, a concretude, a independência - e a certeza de que, por vezes, 2 e 2 não são 4.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

1457


Dormir. Um lado, outro lado. Abre os olhos. Acordar. Ler. Escrever. Ouvir. Voltar. Editar. Pensar. O artigo! O que era mesmo? Ai meu Deus! As fontes. Os prazos. As deficiências. O que quer dizer? Discutir. Sair. Chegar. Ônibus. Trânsito. Marmotas! Duas horas. Correr. Depressa! Comida. Messenger. Refazer. Atordoar. Justificar. Explicar. Embasar. Perder. Acertar. Enlouquecer. Talvez amar.

- E a vida?
- Parece que esqueci em algum lugar.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

terça-feira, 27 de julho de 2010

Pluft!


"... Viu a própria imagem refletida na água, e seu coração entristecido deu um pulo. O que via não era a criatura desengonçada, cinzenta e sem graça de outrora. Enxergava as penas brancas, as grandes asas e um pescoço longo e sinuoso.
Ele era um cisne! Um cisne, como as aves que tanto admirava.
— Bem-vindo entre nós! — disseram-lhe os três cisnes, curvando os pescoços, em sinal de saudação.
Aquele que num tempo distante tinha sido um patinho feio, humilhado, desprezado e atormentado se sentia agora tão feliz que se perguntava se não era um sonho!
Mas, não! Não estava sonhando".





Existem detalhes que mudam tudo o que veio antes. O problema é quando o antes parece nunca ter existido, diante do agora. A verdade é que essas mudanças de realidade são complexas. O ideal é não pensar.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

You may say i'm a dreamer


Pensei em um lugar onde as pessoas fossem amadas como elas são.

Nada de regras, padrões ou uniformidade: um tempo em que o certo e o errado não existissem, mas que fossem apenas opiniões respeitadas. Falo de uma relação tempo/espaço em que as pessoas, naturalmente, fossem cúmplices. Sem esforços, nem força.

Um tempo no qual não houvesse relógio nem prazo - principalmente pra gente. E em que, depois de cumpridas as tarefas, fosse possível girar, girar e se jogar no gramado, olhando para o céu com a sensação de cair para cima.

Onde as desavenças se resolvessem com desculpas sinceras, com palavras suficientes, com abraços infindáveis. A beleza, a cor da pele ou o nível intelectual seriam meros acessórios dispensáveis.

Sabe de que lugar eu falo?
De quando eu tinha 7 anos.







terça-feira, 15 de junho de 2010

(pausa para o café II...)


(porque depois de ler centenas de páginas, escrever algumas e ainda ficar se preocupando com a validade das ideias... um colírio vai bem - com todo o respeito, claro!)

segunda-feira, 14 de junho de 2010

TEMMPO!


Tem tempo pra escrever.
Tem tempo pra pensar.
Tem tempo pra amar.

Tem tempo que é relativo: lépido nas peripécias e brando nas desventuras.

Como ia dizendo, tem tempo pra tudo nesta vida!
(Mesmo que seja o suficiente pra que ela acabe...)

Tem tempo pra frio e pra calor.
E tem tempo pras coisas mudarem.


É só uma questão de tempo, cuja velocidade, assim como na Física, depende do referencial...

terça-feira, 4 de maio de 2010

Mais uma vez Rodrigues


Cheguei a uma hipótese cabal: Nelson Rodrigues não era um homem à frente do seu tempo, tampouco um gênio incompreendido. Muito mais simples do que isso, seu discurso apenas não foi aceito pelo contexto social em que estava inserido.

Michel Foucault, ao tratar da Ordem do Discurso, fala do que seriam três princípios de exclusão dos discursos por parte da sociedade, grosso modo: (1) a interdição - (2) a separação/rejeição - (3) a vontade de verdade. É com base nesta última que se desenrola meu ligeiro raciocíno. Para que determinada ideia seja considerada "verdade", ou pelo menos para ser aceita, é preciso obedecer a regras (tácitas) discursivas presentes no contexto ao qual se faz parte, isto é, é necessário que o discurso se insira no chamado "verdadeiro". Nesse sentido, pode-se afirmar que a forma com que Nelson tratava da moral nas décadas de 1940-50, por exemplo, não acordava com o "verdadeiro" do discurso moralista da época, o que rendia ao autor de Vestido de Noiva a fama de tarado, pervertido, um monstro! Foi preciso toda uma reformulação do pensamento ao longo de décadas, para que só então alguns de seus textos fossem aclamados e, enfim, encenados. Essa transformação do pensamento sobre a moral permitiu que o discurso rodrigueano se encaixasse "no verdadeiro" da moralidade, para daí ser aceito. E como não existe um discurso para o futuro (no sentido de profecia), não podemos dizer que Nelson estivesse fora do seu tempo. A rejeição de algumas de suas obras se deu, provavelmente, por essa incompatibilidade com o meio a que pertencia. Ela era um incompreendido. Entretanto, é possível que essa genialidade lhe seja atribuída pelo fato de seu discurso ser compatível a décadas posteriores à sua escrita - mas não se pode atribuir isso a um insight futurista, lógico. Se bem que, todo gênio é incompreendido... Mas será que todo incompreendido é gênio?

A análise do discurso irá me enlouquecer!




quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

O analista em Nelson Rodrigues


[...]
"Por coincidência, foi o mesmo analista do amigo já citado. Chega o Salim. Olha para o homem que, segundo imaginava, seria o ouvinte profissional, o que tinha mais orelhas do que os demais. O analista começa a falar. Fala sem pontuação, como na lição bem decorada. Salim berra: - 'E eu não falo nada?'. O outro não pára. Pergunta Salim: - 'Eu não falo?'. E o outro: - 'Não ouvi'. O clamor do Salim abala o edifício: - 'Eu não falo?'. O analista vai prosseguir no seu monólogo, quando meu amigo o agarra: - ' Vai ouvir o que eu vou dizer. Cala a boca! O senhor está falando da minha infância. Cala a boca. Está falando da minha infância, mas chega. Quer saber se estou apaixonado por minha mãe? Estou! Ouviu bem? Estou. Minha mãe é a grande paixão da minha vida. Tem 83 anos. Está cada vez mais linda. Ava Gardner é pinto. Páreo pra minha mãe não há, nunca ouve. Entendeu? Nasci apaixonado pela minha mãe. Té logo!'. Saiu como um centauro, derrubando mesas e cadeiras. Todo o edifício tremeu de pânico. Cada andar ouvira a declaração ululante. Juntou gente na porta do analista. Abrem alas para o Salim passar. No consultório, o analista vira-se para a enfermeira aterrada. Diz, como na barbearia: - 'O primeiro'. Não ouvira o berro de Salim" (Nelson Rodrigues, 14/09/1971).


Por essas e outras é, no mínimo, engraçado ler Nelson Rodrigues.


quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

(pausa para o café...)







(porque depois de ler centenas de páginas, um colírio vai bem - com todo o respeito, claro!)

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Sobre a intertextualidade rodrigueana

O autor era um dramaturgo obcecado pelos instintos humanos e, por meio da escrita, buscava denunciar um processo de desumanização, sobretudo por parte da elite brasileira da época (1940... 70..). Para ele, o homem fugia da sua natureza, caminhando rumo à racionalidade excessiva somada à ausência de sentimentos arrebatadores e, é diante deste contexto, que Nelson Rodrigues entendia a função do teatro: como um meio de trazer ao público sentimentos mais fortes, quiçá, a capacidade de se espantar.


"Sou um menino que vê o amor pelo buraco da fechadura. Nunca fui outra coisa. Nasci menino, hei de morrer menino. E o buraco da fechadura é, realmente, a minha ótica de ficcionista. Sou (e sempre fui) um anjo pornográfico."